edição/texto: antónio pocinho publicação: zé dos bois
A história não ensina nada às vítimas. Esperemos que ensine mais aos agressores.
Os estrategos anglo-saxónicos não se lembraram que existem forças mais universais que as forças da guerra, como o movimento de rotação da terra. O facto do movimento de rotação da terra não estar contemplado nos planos dos nossos estrategas já fez com que fossem apanhados desprevenidos numa tempestade de areia.
Não lhes passa pela cabeça que os soldados anglo-saxónicos desaparecidos possam ter querido mesmo desaparecer.
As guerras têm tendência a tornar-se cada vez mais bíblicas e a decorrer na paisagem dos evangelhos e testamentos.
Na guerra não se aprende nada; nem sequer se conhece o inimigo.
Houve um historiador que, qual rato de biblioteca, vasculhou toda a história universal, e só encontrou cerca de onze dias em que não houve guerra.
Uma guerra limpa é uma guerra que limpa muito mais.
Enquanto Saddam Hussein tem duplos, George Bush tem clones.
O intervalo na guerra deveu-se a compromissos publicitários.
Actualmente, a notícia deixou de ser informação; passou a ser um estímulo.
A arma mais mortífera é o Homem, não o homem-bomba, mas o próprio Homem. A energia acumulada dentro de um homem, pode, por si só, destruir um batalhão.
Danos colaterais, bilaterais, trilaterais. Mas laterais como, se não acertaram ao lado, se acertaram mesmo no sítio onde fizeram uma cratera?
Por mais pontos de vista que haja sobre a guerra há um único objectivo.
Há quem diga que esta guerra é para saber quem tem razão. Mas também já ouvi dizer que os americanos vão perdê-la por falta de mísseis.
Estamos a assistir à palestinização do Iraque, com os americanos a querer regressar, não à terra prometida, mas ao próprio paraíso.
Um tirano é um tirano, e até há pessoas que pensam como um tirano, mas será preciso partir tudo para ir buscar um gajo que aparece todos os dias na Televisão.
Segundo fontes do Hexágono, ponderou-se que as tropas voltassem para trás. Contudo não foi possível, devido aos contratos já assinados.
De ambos os lados continuam a ser recrutados prisioneiros de guerra e mortos em combate.
Com os óculos de infra-vermelhos os anglo-saxónicos até podem ver tudo, menos as mil e uma noites de Bagdad.
Os soldados da anglo-saxónicos estão proibidos de, à noite, contemplar o céu estrelado do deserto. Psicólogos americanos dizem que pode haver deserções.
Os soldados iraquianos podem ver as estrelas, mas as suas mulheres não.
Lisboa está cheia de petróleo. Tresanda, está no fumo dos carros, no asfalto, por todo o lado. Há uma estrada feita de petróleo que une Bagdad a Lisboa, aquela estrada que dantes passava por Venda das Raparigas.
De súbito, o tecto pode-se abrir e vir velozmente de cima uma bola a arder e não se poder contar mais nada.
Os Estados Unidos gostam de ser vítimas. Vê-se nos seus filmes. São vítimas de tudo e mais alguma coisa.
Portugal não tem exército. Como é que se pode apoiar uma guerra sem exército. Fazia mais sentido ser pacifista.
Tecnologicamente, esta guerra irá trazer o novo Kit de sobrevivência: prozac, xanax, clonix, imodium e control.
Para uns a guerra é um estado de espírito, para outros um espírito do estado.
É a consciência de que se pode pensar de modo contrário que me faz pensar desta maneira.